sexta-feira, 16 de agosto de 2019




Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Educação e Desenvolvimento Humano:  Formação, Políticas e Práticas Sociais da Universidade de Taubaté. Área de Concentração: Inclusão e Diversidade Sociocultural.


Orientadora: Profª Dra Marilza Terezinha Soares de Souza


AS CONCEPÇÕES SOBRE A INCLUSÃO ESCOLAR DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA EM UMA INSTITUIÇÃO FEDERAL DE ENSINO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICO DO VALE DO PARAÍBA



https://mpemdh.unitau.br/wp-content/uploads/2017/dissertacoes/mpe/a/Sebastiao-Raimundo-Campos.pdf


RESUMO

O direito às oportunidades educacionais é uma questão amplamente reconhecida na legislação nacional e a inclusão da pessoa com deficiência na educação profissional reforça a conquista do direito de todos à cidadania. Este estudo teve como objetivo analisar as concepções atribuídas por 05 professores, 02 estudantes com deficiências e 02 familiares sobre a inclusão escolar. Visou identificar crenças e valores dos participantes relacionados à temática, a fim de compreender as propostas para a melhoria do processo da inclusão escolar, em uma Instituição de Ensino Profissional e Tecnológico da Região Metropolitana do Vale do Paraíba Paulista.  Para isso, realizou-se uma pesquisa exploratória interpretativa, com abordagem qualitativa por meio de entrevistas baseadas em roteiros semiestruturados para professores, estudantes com deficiências e seus familiares. A análise dos dados foi realizada por meio da Análise de Conteúdo fundamentada em Bardin. Como resultados os professores apontaram a equidade e a ação docente como fatores-chave para o êxito da inclusão; já os estudantes e seus  familiares relataram que suas relações sociais foram marcadas pelas dificuldades decorrentes da deficiência, todavia foram superadas por meio de estratégias pessoais e pela busca de apoios necessários para sua integração no ambiente escolar. Observou-se que a motivação pessoal dos estudantes com deficiência e de seus familiares foram suportadas pela religiosidade e pela valorização de si próprios para superar as adversidades, considerando a importância da educação na vida deles. A ação docente consistiu na busca da equidade, de modo a promover a participação de todos os estudantes nas atividades. Constatou-se que o processo de inclusão pode ser aprimorado por meio da adoção de medidas educacionais de aproximação e da participação efetiva das famílias na Unidade Escolar. Além disso é relevante cuidar da formação inicial e continuada dos professores bem como da estrutura escolar material e humana para fomentar a cultura inclusiva.

Palavras-chave: Inclusão Escolar. Pessoa com deficiência. Educação profissional e tecnológica.  Comunidade escolar.








A formação inicial e continuada de professores de licenciatura

Irene MATSUNO
Universidade de Taubaté (UNITAU)
e-mail: irenematsuno@gmail.com

Sebastião Raimundo CAMPOS
Universidade de Taubaté (UNITAU)

Simone Guimarães CUSTÓDIO
Universidade de Taubaté (UNITAU)

Eixo temático
Políticas e práticas de formação inicial de professores da educação básica

Resumo
Este artigo originou-se como proposta de atividade em grupo de conclusão da disciplina Profissão Docente e Desenvolvimento Profissional processo, do curso de Mestrado Profissional em Educação da UNITAU. Para a realização deste trabalho foram entrevistados alguns docentes, buscou-se através de entrevistas saber um pouco da trajetória profissional de desses professores que através dos relatos biográficos, contribuíram para configurar a vida pessoal e profissional. Trata-se de docentes de uma escola da rede privada de ensino médio integrado ao ensino técnico de um município do Vale do Paraíba.  Concluiu-se que a carreira docente é um desafio constante diário e a formação ocorre no cotidiano, pois ser professor é se fazer professor ao longo da carreira, buscando competências, driblando as dificuldades que surgem uma após outra. Mostrou a importância da formação continuada como um processo constante.

Palavras-chave: Docente, Formação, Carreira.
















1.    Introdução

Aprendizagem é o processo contínuo em adquirir conhecimento, ampliando o desenvolvimento humano, progredindo positiva ou negativamente gerando mudanças, transformações em diversos contextos, formal ou informal adquirindo experiências, informações ou práticas, toda atividade humana exibe os resultados de aprendizagem.
Na formação inicial dos professores, o aprendizado é sistemático e intencional com finalidade de transmitir conhecimento e conteúdo. Necessária também a formação continuada para os professores a fim de alcançar os objetivos num contexto tão diverso, multicultural, onde cada indivíduo tende a agregar valor ressignificando e reinterpretando-os a partir de sua perspectiva identitária. Identidade essa que se constitui coletivamente nas diferenças e semelhanças, onde o indivíduo repensa sua relação com o outro, o professor contemporâneo tem que lidar com a diversidade de alunos na mesma sala de aula, com diferentes níveis de conhecimentos prévios que os alunos trazem contigo, considerando o que o aluno já sabe para passar novos conteúdos.
A formação do professor é processo amplo, pois o ele já tem muitas atividades para executar e ainda tem que se atualizar com os cursos de formação continuada, pois o mundo está mudando e se transformando com a globalização, tecnologias e diversidades, trazendo novos desafios e requer inovação e capacitação numa dinâmica crescente.
Segundo Lüdke & Boing (2004) hoje, a preparação do docente pode ser feita em diferentes instituições formadoras, até mesmo de níveis de ensino diferentes. Assim, convivem agora os cursos oferecidos pelas universidades, como os de pedagogia e de licenciatura, o curso normal superior, dentro dos institutos superiores de educação, e ainda o antigo curso normal, em nível médio.
Segundo Gatti (2009) o desenvolvimento curricular das licenciaturas, entre nós, aí incluídos os cursos de pedagogia, não têm mostrado inovações e avanços que permitam ao licenciando enfrentar o início de uma carreira docente com uma base consistente de conhecimentos, sejam os disciplinares, sejam os de contextos sócio educacionais, sejam os das práticas possíveis, em seus fundamentos e técnicas, falta a prática do saber-fazer.

2.    Formação Docente

Para conhecer um pouco mais da formação docente buscamos através de entrevistas saber um pouco da trajetória profissional de alguns professores que através dos relatos biográficos, contribuíram para configurar a vida pessoal e profissional.
Traçando-se o perfil sociodemográfico destes professores verificou-se que trata-se de docentes de uma escola da rede privada de ensino médio integrado ao ensino técnico de um município do Vale do Paraíba.
Foram entrevistados ao todo sete professores, sendo cinco deles do sexo masculino e duas do sexo feminino. A idade dos entrevistados variou entre 24 e 55 anos. A maioria já está na docência a mais de dez anos e apenas uma professora conta com três anos de carreira.
As formações dos entrevistados são licenciatura em Geografia, Matemática, Letras, História, Química. Dois dos entrevistados possuem Bacharel em Análise de Sistemas, um em Comunicação/Jornalismo e uma em Direito. Apenas dois dos entrevistados fizeram o curso de Pedagogia.
Nomeamos os professores de 1 a 7, para dinamizar a análise da carreira docente.




Prof. 1
(N)
Prof. 2
 (G)
Prof. 3
(L)
Prof. 4
(A)
Prof 5
 (P)
Prof. 6
(W)
Prof. 7
(C)
Função
Docente de Língua Portuguesa.
Docente de Sociologia
Docente de Língua Portuguesa
Docente de Matemática.

Docente de Química
Docente de Informática
Docente de Geografia
Histórico Familiar
42 anos/ Casado / 01 filha
45 anos/ Casado / 01 filha.

39 anos/ Casada / sem1 filha.
43 anos/ Casado / 02 filhos
49 anos/ Casado / 02 filhos.
48 anos/ solteiro / sem filhos
24 anos/ Solteira / sem filhos
Formação Profissional
Bacharel em Comunicação, Licenciado em Letras (habilitação para Português).

Bacharel em Análise de Sistemas, Licenciado em História (habilitação para Filosofia e Sociologia).

Bacharel em Direito, Licenciada em Letras (habilitação para Inglês e Português).

Licenciado em Matemática, Educação Física e Pedagogia
Bacharel em Engenharia Química, Licenciado em Química e Pedagogia
Bacharel em Análise de Sistemas.
Licenciado em Geografia
Tempo Docência
Doze anos na carreira docente
Quinze anos na carreira docente
Dezoito anos na carreira docente.

treze anos na carreira docente
Vinte e um anos na carreira docente
vinte e seis anos na carreira docente
três anos na carreira docente
Quantidade de Escola que trabalha atualmente
Três escolas da rede privada
duas escolas da rede privada
duas escolas da rede privada.

uma escola da rede privada e uma escola da rede estadual.

quatro escolas da rede privada
uma escola da rede privada
uma escola da rede privada e duas da rede estadual.
Fonte: elaborado pelos autores 2018

Todos os professores se mostraram muito dispostos a participar da entrevista, mas por conta da dificuldade de conciliar um horário em comum para que o grupo se reunisse, fizemos as entrevistas em dois momentos. O primeiro foi o preenchimento do questionário enviado via e-mail. A seguir foram abordados pessoalmente de maneira individual, no ambiente de trabalho, em momentos de formação distintos, para complementação das informações. O questionário utilizado foi organizado a partir do modelo utilizado na pesquisa de Ambrosetti e Calil (2012) e Araujo (2017). Constou de 17 (dezessete) questões, que abordaremos algumas.
O questionário abordou os quatro aspectos descritos por Vaillant (2012) a respeito das fases da formação docente. Abordaremos somente o primeiro e segundo aspectos que se constituiu questões que possibilitassem uma recuperação da memória educativa, das experiências de ensino prévias de aspirantes a docentes; e o segundo constituiu-se de questões que buscaram identificar a formação inicial específica, bem como as concepções e crenças sobre a profissão docente em relação ao desenvolvimento profissional atual e contínuo.
Para apresentar e analisar a própria trajetória profissional, faz-se necessário um mergulho no passado e uma retomada de diversas lembranças da infância e juventude, pois como Tardiff e Raymond (2000) afirmam
Uma boa parte do que os professores sabem sobre o ensino, sobre os papéis do professor e sobre como ensinar provém de sua própria história de vida, principalmente de sua socialização enquanto alunos. A trajetória profissional inicia antes mesmo de começarem a trabalhar. Essa imersão se expressa em toda uma bagagem de conhecimentos anteriores, de crenças, de representações e de certezas sobre a prática docente. Ora, o que se sabe hoje é que esse legado da socialização escolar permanece forte e estável através do tempo. (TARDIFF E RAYMOND, 2000, p. 216-217)

RECUPERANDO A MEMÓRIA EDUCATIVA

A primeira seção buscou rememorar as pessoas, situações que foram importantes para a formação docente do entrevistado. Foi apresentada uma questão subdividida em três partes.
Questão 01. Pensando na sua história escolar, desde quando entrou na escola até chegar à sala de aula:
a) Quais as lembranças mais significativas desse período? (pessoas, situações, lugares...)
Professor 1 (N) – “A cartilha “Caminho Suave”; Terezinha, minha primeira professora; Cleston, meu primeiro professor de matemática; Sueli, professora de português da quinta a oitava série. Humberto, professor de português em todo o meu ensino médio. Festival de música estudantil. Os primeiros amores.”
Professor 2 (G) “Foram vários os momentos. Dos primeiros anos, me lembro das brincadeiras, dos colegas e da curiosidade em aprender. Esta fase durou até a 4ª série do ensino fundamental. Da 5ª até a 7ª série passei a ser mais seletivo e me identificar com algumas disciplinas: Ciências, História, Geografia, Ens. Religioso. Chegando ao Ensino Médio, optei pelo técnico, o que acabou por me afastar das disciplinas com que mais me identificava.”
Professora 3 (L) - “Para a lembrança mais significativa foi minha professora da Educação Infantil, Tia Deise, lembro-me dela até hoje. Lembro o cheiro, as roupas, o cabelo. Tudo.”
Professora 7 (C) – “Minhas lembranças são de alguns professores específicos que me marcaram pela afetividade e pela qualidade em seus trabalhos; a minha postura em sala de aula, onde sempre fui uma aluna quieta e que realizava TODAS as atividades propostas pelos professores; lembro de minha relação com a classe, que sempre foi harmoniosa, eu sempre busquei ajudar meus colegas quando terminava minhas atividades e em relação ao local, tenho memórias de todas as minhas escolas, desde o pré.”

A maioria relatou a lembrança por seus professores, seja a primeira experiência seja ao longo da trajetória. Um deles relatou ainda a cartilha usada na alfabetização.
Mesmo que não tivessem consciência disso, essas “experiências, pessoas e brincadeiras” se tornariam posteriormente fatores desencadeadores e incentivadores para a docência, pois de acordo com Tardiff e Raymond (2000)
as experiências formadoras vividas na família e na escola ocorrem antes mesmo que a pessoa tenha desenvolvido um aparelho cognitivo aprimorado para nomear e qualificar o que ela retém dessas experiências. Além de marcadores afetivos globais conservados sob a forma de preferências ou de repulsões, a pessoa dispõe, antes de tudo, de referenciais de tempo e de lugares para indexar e fixar essas experiências na memória. (TARDIFF e RAYMOND, 2000, p.216)

b) Durante esse tempo, você pensou em ser professor(a)?
Professor 1 (N) – “Sim, mas já no terceiro ano do Ensino Médio. Neste período, praticamente o ano todo, ajudava meus colegas em trabalhos e avaliações”.
Professor 2 (G) – “Durante a infância pensei em ser professor/pesquisador, ainda que na época eu não soubesse que era isso o que eu pensava em ser. Queria poder estudar e ensinar. Durante a adolescência abandonei essa ideia. Admito que a contra gosto”.
Professora 3 (L) – “Sim, desde que nasci, já sabia que seria professora”
Professor 5 – (P) “Não. Jamais achei que fosse capaz de lecionar igual aos meus mestres. Eu sempre pensei que eles estavam muito acima de mim.”
Professor 6 (W) – “Com 8 anos de idade, ensinei nossa empregada doméstica a ler e escrever. Todas as noites depois do jantar, eu sentava com ela na mesa da cozinha, pegava meu livrinho de língua portuguesa do 2º ano primário, pois era o único recurso que eu tinha, e ia ensinando-a. Não sei como, ela conseguiu aprender. Eu sentia muito prazer em ver que o que eu ensinava era compreendido, mas nem passava pela minha cabeça ser professor. Aos 14 anos de idade já ganhava algum dinheirinho dando aulas particulares de inglês para meus colegas de sala. Nunca quis ser professor.”
Professor 7 – (C) “Quando criança, passava horas brincando de professora, e sempre tive essa postura de ajudar meus amigos a realizar as atividades em sala de aula. Então, acho que  sempre pensei em ser professora....”

Como se vê a maioria dos entrevistados relatou que desde a infância pensaram em ser professor ou já sentiam uma vocação para lecionar. Apenas em um caso específico, em que mesmo tendo ajudado na alfabetização da empregada não houve o pensamento de seguir essa profissão.
Carlos Marcelo (2009) nos ajuda a compreender essa influência na escolha da profissão quando afirma que “professores entram no programa de formação com crenças pessoais acerca do ensino, com imagens de bom professor, imagem de si mesmos como professores, e a memória de si mesmos como alunos”. (MARCELO, C. A. 2009. p.116)
E ainda,
Incluem aspectos da vida que determinam uma visão do mundo, crenças em torno de si mesmo e em relação aos demais, ideias acerca das relações entre a escola e a sociedade, assim como sobre a família e a cultura. A procedência socioeconômica, étnica, o sexo, a religião, podem afetar as crenças acerca do aprender a ensinar. [...] Inclui todas aquelas experiências como estudante, que contribuem para formar uma ideia acerca do que é ensinar e qual é o trabalho do professor. (MARCELO, C. A. 2009. p.115)

c) Como, quando e porque você decidiu ser professor?
Professor 2 – (G) “Decidi ser professor, ou melhor, a ter coragem de ser professor, ou ao menos trabalhar com educação, durante as aulas de Antropologia no curso de Análise de Sistemas. Ao apresentar um trabalho sobre Hinduísmo tive a certeza de que era o que eu queria fazer.”
Professora 3 (L) – “Em minha infância dava aula para vassouras, kkkk, meus cachorros, sempre falei para minha mãe que seria professora”.
Professor 5 – (P) “Foi no final da Faculdade de Engenharia. Eu já ministrava aulas de Reforço no 3º ano da Faculdade, mas sempre levei como um “bico”, nunca pensei que poderia ser professor.”
Professor 6 – (W) – “Em 1981 eu tinha 17 anos de idade e minha família passava por uma situação um pouco difícil, e surgiu a oportunidade de eu ministrar aulas de informática. Felizmente eu me dei muito bem ministrando as aulas que em poucos meses eu tinha me tornado a opção Nº1 da escola quando uma nova turma era montada. Eu não queria ser professor, mas foi a única opção que tive naquele instante de dificuldade, portanto, tive que aceitá-lo. Repetindo... Nunca quis ser professor.”

Como relatado, todos os entrevistados só se decidiram pela docência por meio da experiência quando já estavam no ensino superior, mas houve um caso que a opção foi por motivos de dificuldades familiares e outro reflete a vocação desde a infância.
Imbernón (2009) ressalta que a influência pela escolha profissional se inicia muitas vezes por influência da família, mas que outros elementos vão agregando valores a essa decisão. Com o passar dos anos outros atores sociais vão sendo introduzidos na história de vida e trazem considerações a serem feitas.
(...) múltiplos fatores influenciam na formação, tais como: a cultura (e a complexidade) das instituições educativas, a comunicação entre o professorado, a formação inicial, a complexidade das interações da realidade, os estilos de liderança escolar, as relações e a compreensão por parte da comunidade escolar, as relações e a os sistemas de apoio da comunidade profissional etc. (IMBERNÓN, 2009, p. 91)

CONCEPÇÕES E CRENÇAS SOBRE A PROFISSÃO DOCENTE

Esta segunda seção buscou conhecer através das questões de número dois a nove, o que Dubar chama de “composição identitária” do professor através dos relatos de vida, experiência, vivências. Por meio delas pudemos fazer as análises a cerca das concepções e crenças dos entrevistados sobre a constituição da sua identidade docente.
[...] trabalha muito bem com a delicada questão da composição identitária dos indivíduos, com base nas várias dimensões que entram nessa composição, tais como a psicológica, a antropológica e, sobretudo, a dimensão do trabalho.[...] (DUBAR apud LUDKE, M.; BOING, L.A. 2004, p.1166)[grifo nosso]

QUESTÃO 2. Para você, o que é “ser professor”?
Professor 1 – (N) – “É poder compartilhar o conhecimento, mas, sobretudo aprender, crescer com a experiência do aluno.” 
Professor 2 – (G) -  - “É estar em constante processo de aprendizagem, é uma profissão que não permite acomodação e que nos permite além da realização pessoal e do sustento possibilita também contribuir para o progresso do outro.”
Professora 3 (L) – “Professor para mim além de ser aquele que transmite conhecimento, é àquela pessoa que ‘transforma’, seja para o bem ou para o mal.”
Professor 4 (A) – “Ser professor é transmitir, trocar conhecimentos, orientar, instruir e direcionar os alunos nos caminhos que eles poderão trilhar.
Professor 5 – (P)- “É poder estimular o cérebro das pessoas, mostrar a eles que são capazes de aprender”.
Professor 6 – (W) – “Ser professor é capacitar pessoas para a vida pessoal e profissional. Entendo ainda que é uma das poucas formas de se combater efetivamente a ignorância, que é a fonte de todo o mal no mundo.”
Professor 7 – (C) – “É doar-se, transferir conhecimento através de um diálogo harmonioso com os alunos.”

As definições do “Ser professor”, em todas as falas, apresentam um tom emotivo, como se o conhecimento tivesse internalizado e a prática docente se constituísse numa prática libertadora para si e para o outro. Quando os professores definem o “ser professor” como doar-se, transferir conhecimento, orientar, instruir e direcionar os alunos, concordam com Paulo Freire quando afirma que a pedagogia da libertação se referencia no gênero humano em sua complexidade, objetivando a transformação da vida a partir dos espaços, experiências, culturas e vida social de qualquer indivíduo. É a educação que acontece por meio da experiência que sai de dentro e propõe-se a transformar o outro. Na visão dos professores entrevistados o “ser professor” é ser aquele que transforma. Estar em constante processo de aprendizagem, crescer com a experiência do aluno, capacitar pessoas para a vida pessoal e profissional, estimular o cérebro das pessoas.
[...] É uma construção do “si mesmo” profissional que evolui ao longo da carreira docente e que pode achar-se influenciado pela escola, pelas reformas e pelos contextos políticos, que “inclui o compromisso pessoal, a disposição para aprender a ensinar, as crenças, os valores, o conhecimento sobre a matéria que ensinam, assim como sobre o ensino, as experiências passadas, assim como a vulnerabilidade profissional”. (LASKY apud MARCELO, 2009, p.112)

Questão 3. Como você vê o trabalho do professor?
Professor 1 (N) – “Infelizmente, cada vez mais perdendo o valor, o prestígio, o respeito que tinha no meu tempo de ensino médio”.
Professora 3 (L) – “Hoje esta profissão está muito desvalorizada, infelizmente, pois o respeito acabou. Respeito como pessoas, respeito como profissionais.”
Professor 4 (A) – “Estamos vivendo em uma época que acredito que o maior desafio é ser professor. Temos que criar e recriar meios alternativos para exercer essa profissão.”
Professor 5 (P) –“[...]Mas infelizmente no nosso país é muito mal remunerado: temos que dar muita aula para termos uma condição mínima de vida. Eu, por exemplo, leciono em 4 escolas e em duas cidades diferentes para manter um padrão mínimo de vida. Acho isso muito cruel para nossa classe”.
Professor 7 – (C) – “É um trabalho de muito cansaço psicológico e que exige constante atualização e dedicação do profissional, também vejo como desvalorizado por muitos indivíduos da sociedade. Por enquanto, minha filosofia sobre o trabalho do professor é o velho clichê: Quem não ama a educação, não fica na área. Ou fica, e não realiza um serviço de qualidade.”

As falas dos entrevistados a respeito do trabalho do professor revelaram mais aspectos negativos do que positivos. Os pontos negativos destacados falam a respeito do esforço e dedicação extremos que o trabalho docente exige. A produção intelectual resulta em muito cansaço físico e psicológico. Concordam entre si que esta é uma profissão que vem ao longo dos tempos perdendo o seu valor. Já não se percebem o respeito e o prestígio que a classe docente tinha há algum tempo e não são mais remunerados adequadamente.
Ludke e Boing (2004) destacam que há quatro décadas “o salário do professor, ou melhor, da professora primária, representava garantia de vida digna para a “profissional” celibatária, ou uma ajuda considerável no orçamento familiar das casadas” (LUDKE, M.; BOING, L.A. 2004, p. 1160). Estes mesmos autores observam é que “[...], a ‘profissão’ docente exibe, mesmo aos olhos do observador comum, sinais evidentes de precarização, visíveis pela simples comparação com datas passadas”. (LUDKE, M.; BOING, L.A. 2004, p. 1160).
Além da falta de valorização social, a maioria dos entrevistados, quatro dos sete professores consideram que o trabalho do professor é extenuante e mal remunerado, sendo necessária uma jornada de trabalho muito extensa para ter o mínimo de sustento.
Essa fala a respeito da falta de valorização docente se estende também às más condições de trabalho, o que deixa a carreira docente pouco atrativa. Para Gatti (2009) o salário baixo no início da carreira, as más condições de trabalho, a insegurança e a falta de perspectiva de que esse quadro se altere durante os anos de exercício profissional apresenta a docência como uma carreira que se mostra “não compensatória”.
Marcelo (2009) explica que essas más condições de trabalho e remuneração apresentam impacto direto na qualidade da educação.
[...]as políticas de reforma educacional executadas em muitos países deterioraram as condições de trabalho dos docentes, causando desmoralização, abandono da profissão e absentismo, tendo, tudo isso, um impacto negativo na qualidade da educação que se oferece aos alunos [...] (Carlos Marcelo, 2009, p.111)

Os aspectos positivos que os professores entrevistados ressaltaram foi o de que apesar da profissão docente não ser reconhecida social e financeiramente, é uma profissão que traz uma satisfação pessoal muito grande.
De acordo com Ludke e Boing, isso se dá pelo fato de que “aos professores, abre-se uma perspectiva capaz de lhes permitir, com mais autonomia, lidar com as transformações cada vez mais aceleradas, no mundo e na educação.” (LUDKE, M.; BOING, L. A. 2004, p. 1178)
O fato de lidar com pessoas e de poder participar das mudanças de vida das pessoas é o que mais pesa positivamente para os entrevistados. Carlos Marcelo (2009) considera que
A motivação para ensinar e para continuar ensinando é uma motivação intrínseca, fortemente ligada à satisfação de conseguir que os alunos aprendam, desenvolvam capacidades, evoluam, cresçam. Outras fontes de motivação profissional, como aumentos salariais, prêmios, reconhecimentos, são boas, mas sempre na medida em que repercutam na melhora da relação com o corpo discente. (Carlos Marcelo, 2009, p.121)
Questão 4. Como deve ser o trabalho de um professor? Para você quais as competências que um professor deve ter para ser um bom professor?
Professor 2 – (G) “Deve ser feito sempre se levando em conta que trabalhamos com pessoas em formação e que também somos pessoas em permanente formação. Deve ser feito com dedicação, cuidado e respeito. Um professor para mim deve ter empatia por seus educandos, deve gostar de estudar e ter paciência com as pessoas, entre outras características.”
Professora 3 - (L) “O trabalho do professor deve ser mágico, deve encantar. Depende do que seja chamado de competência, pois para o professor o que é primordial, é simplesmente ter respeito pelo seu aluno, pelo seu familiar. Saber que cada um aluno é um ser pensante, um ser individual.
Professor 4 – (A) “O trabalho deve ser inovador e diferenciado. As competências para ser um bom professor deverão ser: social, inovador, organizado, preparado, motivador, envolvido com a tecnologia, comprometido e etc.”
De maneira geral, os apontamentos destacados estão direcionados a aspectos comportamentais e de competência/habilidade, como afirma Tardif (2000)
observa-se que um aspecto comum aos diversos estudos é a ênfase nas relações entre o exercício profissional e os saberes inerentes à profissão, entendidos num sentido amplo, que inclui o saber fazer, mas envolve “os conhecimentos, as competências, as habilidades (ou aptidões) e as atitudes dos docentes” (TARDIF, 2000 apud GATTI, B. 2009, p.99)

Fanfani (2007) continua destacando o aspecto ético e o domínio de conhecimento.

[...] em todo o trabalho realizado de pessoa para pessoa (serviços pessoais), o domínio de certas competências técnicas instrumentais é necessário, além de uma vantagem ética de "compromisso", "respeito" e "cuidado" para o outro, neste caso a criança, adolescente ou estudante com quem o professor trabalha. [...] (FANFANI, E. T., 2007, p.349)

Questão 5. Pensando nas várias situações de aprendizado que você teve (a experiência de vida, a formação escolar, a formação profissional), onde você acha que aprendeu as coisas mais importantes para ser professor?
Professor 2 – (G) “Definitivamente em sala de aula.”
Professora 3 - (L) “Aprendi as coisas mais importantes para ser professor, com minha experiência, porque sem ela, nós não somos ninguém, a experiência faz toda diferença na vida profissional.”
Professor 4 – (A) “Eu sempre comento... Aprendi a dar aula, na sala de aula.”
Professor 7 – (C) “No momento em que entrei sozinha em uma sala de aula, em que me vi tutora, uma responsável por aquele local e pelos meus alunos. Ou seja, é na experiência profissional que aprendo todos os dias, mais e mais....”
Segundo Carlos Marcelo, (2009) entende-se o desenvolvimento profissional dos professores como um processo individual e coletivo que se deve concretizar no local de trabalho do docente: a escola; e que contribui para o desenvolvimento das suas competências profissionais, através de experiências de índole diferente, tanto formais como informais. [...], no entanto [...]. Nos últimos tempos, tem-se vindo a considerar o desenvolvimento profissional como um processo em longo prazo, no qual se integram diferentes tipos de oportunidades e experiências, planificadas sistematicamente para promover o crescimento e desenvolvimento do docente.
Observa-se na fala da maioria dos professores entrevistados que o desenvolvimento profissional se deu na escola, na sala de aula, por meio de um exemplo de um professor, mas de maneira geral isolado e sozinho. A situação de ensino é por si mesmo uma profissão solitária, como descreve Carlos Marcelo (2009) quando afirma que “[...] poucos profissionais se caracterizam por maior solidão e isolamento. Ao contrário de outras profissões ou ofícios, o ensino é uma atividade que se realiza sozinho.[...] (Carlos Marcelo, 2009, p.120). E ainda Huberman,
[...] esses professores trabalham sozinhos, aprendem sozinhos e desenvolvem a maior parte de sua satisfação profissional sozinho ou através de suas interações com os alunos em vez de com os companheiros. (Huberman apud Carlos Marcelo 2009, p.122)

QUESTÃO 7. As ações de formação continuada oferecidas pela escola contribuem para seu trabalho docente?
Professor 1 – (N) “Sim, são sempre enriquecedoras.”
Professor 2 – (G) “Sim, refletir sobre nossa práxis sempre contribui.”
Professor 5 – (P) “Sim, e muito.”
Professor 6 – (W) “Com certeza. A melhoria contínua do profissional é fundamental para a sobrevivência da escola, principalmente se ela pretende ser vista como um polo de ensino, ou uma referência.”
Professora 7 – (C) “Sim, desde que essas ações estejam vinculadas á prática dessa formação aplicada em sala de aula”.

Na questão 7, ficou claro que de maneira geral os professores concordam que a escola deve sim ser um espaço de formação, embora não são todas elas que oferecem, e que essas ações, uma vez vinculadas à prática da formação focando a aplicação em sala de aula e proporcionando à reflexão e são sempre enriquecedoras, pois esta visa a melhoria contínua do profissional o que é fundamental para a sobrevivência da escola. A análise da prática docente deve ser uma constante nas ações de formação continuada da escola. Imbernón (2009) defende que o professor deve se opor a toda e qualquer ação formativa para os diversos campos, seja na constituição dos conteúdos ou da definição de práticas processuais que não leve em conta a análise reflexiva.
Questão 8. Como você avalia o impacto da formação na sua atuação profissional?
Professor 4 – (A) “Foi de extrema importância, minha formação me proporcionou conhecimentos que levarei para o resto de minha vida.”
Professor 5 – (P) “Total. Os alunos se espelham em nós para decidir um futuro profissional.”
Professor 6 – (W) “Me ajuda bastante, embora eu seja uma pessoa que por minha própria conta, diariamente busco novos conhecimentos em áreas de atuação variadas e não relacionadas entre si.”
Professor 7 – (C) “A formação é a base, é a chave, sem o conhecimento de sua formação, por onde um professor iria começar?”
Os professores entrevistados são unânimes em dizer que a formação inicial e a continuada foram e são fundamentais para o exercício da sua formação.
QUESTÃO 9. Você já adotou mudanças na sua prática pedagógica em função da formação continuada? Pode citar algum exemplo?
Professor 2 – (G)Tenho tentado repensar minhas aulas para que o aluno tenha mais espaço, para ser mais mentor de conhecimento do que transmissor. Não é fácil, e dependendo do lugar e das aulas não pode ser praticado.”
Professor 3 – (L) “As atualizações me fizeram enxergar métodos mais eficazes para trabalhar com alunos especiais.”
Professor 4 – (A) “Sim, na maneira de realizar um trabalho diferenciado com alunos que demonstram ou apresentam algum tipo de dificuldade no aprendizado.”
Todos os professores afirmaram que modificaram algumas práticas em função de uma formação específica, o que nos leva a crer que a formação continuada tem uma grande importância para o crescimento profissional. Sobre a prática docente Tardiff afirma que
[...] integra diferentes saberes, com os quais o corpo docente mantém diferentes relações. Pode-se definir o saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais. [...] (TARDIF, M. 2013, p.36)

3.    Considerações finais
            Os relatos dos professores a respeito da formação docente nos permitiram chegar a algumas considerações a respeito do tema.
A primeira é que a carreira docente é um desafio constante diário, ao requerer planejamento e intencionalidade faz do gostar de aprender, e de ensinar e de ser inovador criando condições para seu exercício.
 A formação ocorre no cotidiano, pois ser professor é se fazer professor ao longo da carreira, buscando competências, driblando as dificuldades que surgem uma após outra. E o bom professor é aquele profissional que não se deixa vencer, inova e, em respeito aos seus pupilos e também aos seus mestres ou pessoas em que se referenciam, não se satisfazem em oferecer um “marmitex” a cada aula, mas se esmeram em proporcionar sempre um banquete.
O professor é um ser solitário que busca iluminar as vidas das pessoas, por vezes sonha junto, se alegra junto e também compartilha momentos mais desoladores. Cumpre uma função social, de buscar a equidade, a justiça através da liberdade que a consciência crítica do conhecimento promove.
A profissão requer um outro olhar das autoridades, pois é desta profissão que emergem todas as outras, em toda a sua plenitude.

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